Archive for the ‘Versejado’ Category

abril 29, 2009

eu grito, hesito, sou bruxa, não, acudam!

eu falo enquanto sonho cômodos divididos, espécies diversas engolindo umas as outras, na parede: uma janela

eu estou aqui mas só sou lá, no outro lado da janela, uma fresta no vidro nem de todo cerrado deixa escapar minha existência

pro outro lado

eu vazo desse corpo lúdico

morreu, o carro, querido, foi um espasmo

enquanto isso o gato, um gato

atravessa a parede

pela porta

que eu não tinha notado.

(e agora um dejà-vu, andei postando essas linhas desde… os pulsos, o fogo, amarras, ah, chega!)

abril 12, 2009

E então eu, que ia aos poucos me familiarizando com o inescrutável de seus espasmos, abandonando o vício da taxonomia das emoções alheias, libertava-me do que outrora sondava como se mensagem fosse, e tocava enfim a matéria dos acontecimentos, outorgando ao tato a busca pela verdade que eu perseguia incansável,

mas em troca pedia

sacrifica sua boca ao golpe sem mestre que é o beijo que lhe ofereço

encolhe sua fome a esse lamento amargo que verto sem censura

resigna seu movimento à cela escura que é meu copo sem bordas

dispensa a sordidez dos seus seguidores e vem só ao meu encontro, e vem despido de barulho, vem pobre de pranto que eu desfilo meu arsenal de verbos de ligação

já que não sei o que é ser uma

apita seu arbítrio e ouve minha surdez recrudescida

libera seus soluços se o que resta é nada, que eu te acolho num conjugar de vazios que será, então, meu e seu

bota as cartas sobre os lençóis pra que a artimanha seja de fato nova

suporta meu cansaço na perfeição de seus ombros assimétricos

uiva sua rouquidão na austeridade da cerimônia que será cada manhã ofuscada pela inconveniência da luz

despreza a volição megera que me arrebata

ao me ver

pronta pra sairmos

esquece tudo isso,

elogia-me o vestido, as sandálias, um traço qualquer que te agrade,

e,

a despeito desse sermão oco que eu, sem rumo, sem substância, prego por aí,

afirma seus desejos

sem deixar a mim

qualquer opção.

março 5, 2009

entrei no prédio lembrando do tempo em que você dizia

calma

e eu nem sabia o que significava isso, você dizia

calma

e eu não ouvia nada, eu gritava chorava esmurrava o seu peito até que você segurasse os meus pulsos e parasse de pedir

calma

eu era aflita e achava que não precisava disfarçar, achava que poderia viver assim impunemente, te achava reacionário dizendo

calma

porque eu não tinha

calma

porque eu não fingia ter

calma

porque eu te desejava sem

calma alguma e o seu desejo era um grito,

reflexo da sua imagem, eu era uma cobaia, te desejava numa ânsia de cobaia, eu ouvia a sua voz

pelos corredores pelos sonhos pelos muros, só ensurdecia ao seu

calma

só ensurdecia aos lampejos de prudência que você tentava me fazer sentir educando a minha ira enquanto eu escapava pelos vãos, enquanto eu tinha tudo, menos

(      ).

(antigo, pero no mucho)

julho 14, 2007

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